Esse texto diz de misteriosos incêndios que iluminaram as
matas do Vale do Iguaçu no fim do ano de 2021.
Como se sabe, essa região não é propícia aos incêndios
florestais por conta do aquecimento e do ar seco nas estações quentes. Falamos
de regiões intensamente úmidas, uma terra de banhados na qual as matas sempre
contam com suas trilhas enxarcadas entre xaxins, araucárias, samambaias e bicas
d'água que brotam por toda parte. Mesmo assim, no final de 2021, a cidade viu
uma quantidade absurda de incêndios tomando conta das florestas locais.
Anteriormente, ainda no inverno daquele ano, no dia 09 de
agosto, um incêndio já ocorria no bairro São Braz, sendo o terceiro de uma
sequência de outros incêndios misteriosos que, dada a época, jamais poderiam
ser atribuídos a fatores climáticos. Contudo, essa foi apenas uma primeira
leva, antecipando uma sequência bem mais significativa de fenômenos ígneos. No
dia 23 de dezembro de 2021, dois dias após o Solstício de Verão,
tradicionalmente associado ao poder do fogo (de onde vem a fogueira de São
João, que provém do Solstício de Verão europeu), o morro que se ergue logo após
a Ponte do Arco se viu em chamas. Foi um incêndio deveras significativo. Os
bombeiros tiveram esforçada peleia contra o fogo que avançava implacável; foi
mais de um dia de trabalho, precisando do reforço de 15 bombeiros e
helicóptero.
Para quem não conhece, aquele morro, apesar de ser muito
próximo da cidade, de ter chácaras no seu território e ser cercado por
estradas, além de ter perdido muitas das suas araucárias e imbuias antigas, é
um local de ampla preservação. Quem já se entreverou por seus caminhos sabe de
árvores imensas, araucárias colossais, xaxins majestosos coroados e até antigas
imbuias. Por suas trilhas cercadas de inhapindás e sempre úmidas, com pequenos
riachos cortando a floresta, torna-se fascinante reconhecer como há preservação
desta forma sendo o local tão próximo à cidade e aos avanços modernos do homem.
Na realidade, esse "morro" são 3 morros, como pode se ver da altura
do CTG Fronteira da Amizade; há um primeiro morro, que se vê bem de perto da
Ponte do Arco, então esse morro desce e se torna outro maior que sobe, sendo
que este segue da mesma forma e dá lugar para um terceiro ainda mais alto, onde
fica o topo daquele recorte geográfico da mata atlântica austral. É um lugar
muito grande, ficando maior que o que se vê pelo mapa graças às descidas e
subidas que estão ali. Essa dinâmica também faz do local um espaço muito úmido;
um incêndio de causas naturais naquela parte é uma hipótese que dificilmente um
conhecedor mais profundo da região acreditaria.
Esse incêndio, ocorrido no dia 23, foi o primeiro de uma
série de 10 incêndios florestais que ocorreram em vários locais do Vale do
Iguaçu do dia 23 até o dia 29 de dezembro de 2021. No dia 25, em pleno Natal,
ao menos 3 focos de incêndio eram constatados, sendo o mais grave no bairro São
Sebastião, onde mais tarde foi encontrado uma Fiat Strada totalmente destruída
pelas chamas dentro da área de vegetação. Durante esse tempo, os meios de
comunicação repetiam orientações sobre como evitar queimadas acidentais fazendo
acero ou publicavam as implicações legais de incêndios criminosos. Pouco se
falava nas condições climáticas, sendo estas um fator a ajudar na propagação do
fogo, mas dificilmente o elemento inicial dos fogos nessa onda de incêndios tão
intensa, coisa completamente incomum para a região.
Automóvel queimado no incêndio
Na boca das pessoas, vários boatos começavam a circular.
Falava-se em um casal visto saindo das localidades, em pessoas fazendo
fogueiras ou mesmo na intenção de acabar com a vegetação de certos locais para
favorecer o reflorestamento de pinus mais tarde. Contudo, isso tudo não
explicava satisfatoriamente o que ocorria. Essas circunstâncias poderiam
explicar casos isolados, mas não a repetição das queimadas em tantos lugares
diferentes, inclusive lugares onde um suposto reflorestamento de pinus não
faria nenhum sentido, como no morro perto da Ponte do Arco ou em trechos do
Morro da Antena (onde também houve queimadas, mas não tão noticiadas). Sendo de
tal forma, o que estava acontecendo?
Uma hipótese por muitos levantada foi de sujeitos afetados
por algum nível de piromania, distúrbio no qual as pessoas obtêm prazer ao
atear fogo nas coisas. A época em que ocorreu, logo após o Solstício também é
interessante, teria algum conteúdo simbólico envolvido nas queimadas? É difícil
responder, pois dependemos de boatos e deduções que sabidamente não carregam o
suficiente para configurar uma hipótese real. No caso de uma atitude
ritualística, simbólica, como isso poderia proceder? Sabendo que há várias
doutrinas e encaminhamentos metafísicos que norteiam diferentes grupos, alguns
muito sutis e presentes na região, só poderia se tratar de um culto que se
envolve com as potências destrutivas, geralmente acreditando na malignidade do
mundo material e na necessidade de acelerar sua destruição. Outra possibilidade
seria a de influenciar de alguma forma na natureza local, acreditando que isso
surtiria determinados efeitos no tecido geopolítico ou social da região, ou
quem sabe trazer consequências específicas acordadas em algum tipo de rito. Ou,
quem sabe, a estipulação de um sacrifício dos entes naturais a alguma força
obscura e destrutiva, intentando alcançar com isso algum fim. Agora, que fim
poderiam visar essas pessoas?
Pois bem, apesar de alguns indicadores e de um sentido auto
ilusório de algumas pessoas e do meio político em ver as cidades como lugar de
pleno desenvolvimento, muitos sentem que há algo estranho no ar já há alguns
anos, talvez há uma década. A criminalidade tem subido vertiginosamente,
escalando níveis que alarmam a opinião pública: tiroteios no centro da cidade,
insegurança geral, assaltos cada vez mais frequente, crimes passionais e toda
sorte de problemas criminais. Além disso, tornou-se preocupante o número de
suicídios nos últimos anos no Vale do Iguaçu. Caso realmente houvesse alguma
intenção maligna por trás desses atos incendiários, haveria alguma relação com
o declínio desses aspectos da região? Algo que ouvi de muitas pessoas é uma
sutil percepção pela qual muitas pessoas da cidade parecem, nos últimos tempos,
contaminadas por um tipo de agressividade constante, um constante estado “de
mal com a vida” que as incita a levantar chamas a partir das mais pequenas faíscas
conflituosas no trato social. Essa pode ser uma percepção distorcida, afetada
pelo aumento da criminalidade relacionada à expansão da cidade, que faz uma
despedida sem volta para o Vale do Iguaçu nostálgico, seguro e conciso na sua
vida psíquica social local, mas ainda uma análise que parte de dados da
realidade e de uma percepção coletiva que tem sua valia.
Concordo que a isso nem se possa chamar de hipótese, pois é
só uma especulação da mais vaga, baseando-se em comentários e em todo um corpo
de conhecimentos pouco conhecidos sobre a região e pequenos círculos herméticos
que respondem a princípios metafísicos ocultos. A realidade é que, partindo do
pressuposto de que a melhor hipótese que responde aos fatos é a de incêndios
criminosos, seria necessário sujeitos totalmente desenraizados e de mal caráter
para atentar de tal forma contra a natureza da própria cidade, acabando com
árvores que levaram décadas ou até séculos para crescer. Que benefício teriam
os perpetuadores dessas ações?! A satisfação de um impulso inconscientemente
masoquista de destruir a natureza da qual se faz parte? A resposta a uma pulsão
de morte que fusiona sujeito e mundo circundante? Propósitos ocultos para fins
destrutivos? A realidade sobre os acontecimentos perdurará no desconhecimento.
Mesmo que as pessoas falem que viram um casal saindo dos locais, quem seriam eles?
Seriam, como alguns diziam, pessoas associadas a certos movimentos
espiritualistas ou grupos de poderosos? Não é possível acusar de tal forma,
pois, de fato, ninguém sabe de nada. Só nos resta compor teias argumentativas
vagas, perdidas, com base em poucos boatos que correram pelas rodas de
conversa. No entanto, sabemos que tudo que acontece pode ter raízes bem mais
profundas e, além da superfície óbvia do fato pelo fato, pode responder a
motivações externas que soariam como insanidades ao homem comum. E com esse
conhecimento, e com base no que sabemos e ouvimos sobre nossa região, há tudo
para se considerar que, neste caso, também houve um algo mais, uma motivação
oculta, e isso provavelmente se relaciona com algum dos grupos que tentam alterar
o destino dessa terra. Afinal, o destino profético da região, ditado pelo
Monge, está em ligação necessária com os morros, incluindo o morro da Ponte do
Arco, que sempre sofre com deslizamentos; pela profecia, um dia cairia sobre o
rio e as águas tomariam a cidade.
Foto tirada por mim no Morro da Antena em 8 de fevereiro
de 2022
Após os incêndios, ainda naquele verão de 2021 e de 2022,
quem percorria alguns trechos ficava com uma estranha impressão de estar diante
de um falso outono. Ao invés do resfriamento noturno do ar e da morte cíclica
das folhas, era o fogo que havia deixado as árvores secas e vermelhas as folhas
em época de verdejar. Olhando esses cenários, alguns provavelmente se
perguntavam o que se tentou queimar? E por quê? Teria sido esse movimento uma forma
de eliminar algo que desconhecemos? Pessoas? Grupos? O carro queimado tinha
algum significado? Independente da sua efetividade, haveria um significado
ritual por trás das ações? Ou as hipóteses mais simples como piromania ou
interesse comercial poderiam sanar as dúvidas? Perguntas irão permanecer.
Infelizmente, não há como fazer uma pesquisa mais detalhada sobre possíveis
eventos semelhantes em outros anos, mas nisso se abre também a possibilidade de
uma intencionalidade que se repete no tempo durante os anos com algum fim
obscuro. Assim, desejo que esse pequeno texto especulativo sirva como memória
para que, no futuro, caso ocorra novamente, já exista um precedente para
maiores investigações.
FONTES
https://www.vvale.com.br/geral/mais-um-incendio-em-vegetacao-registrado-em-uniao-da-vitoria/
https://www.vvale.com.br/seguranca/urgente-bombeiros-sao-acionados-para-atender-situacao-de-incendio-em-mata/
https://www.vvale.com.br/geral/bombeiros-devem-receber-reforco-para-tentar-controlar-incendio/
https://www.vvale.com.br/geral/varios-incendios-em-area-de-vegetacao-sao-registrados-no-feriado/
https://www.vvale.com.br/seguranca/veiculo-e-encontrado-destruido-por-incendio-no-bairro-sao-sebastiao/
https://www.vvale.com.br/geral/incendios-ambientais-marcaram-o-fim-de-semana-na-regiao1/
https://www.vvale.com.br/seguranca/mais-uma-area-de-vegetacao-e-atingida-por-incendio-em-uniao-da-vitoria/
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